Recebi um convite para dar uma entrevista para a revista Bem Estar, o assunto é delicado e polêmico, vou compartilhar com vocês, aos poucos pois a conversa foi longe. Espero que gostem.
Bem-Estar: Percebe-se, na grande maioria, que as crianças resistem bastante a atender aos convencionais "não" proferidos pelos pais, principalmente no início. Como conseguir fazer com que realmente obedeçam a estes limites?
Luciana Abreu: Em primeiro lugar, os pais precisam estar convictos de que frustrar a criança é fundamental para o seu desenvolvimento emocional, afinal ninguém vai deixar seu filho colocar o dedo na tomada somente porque ele quer. Os pais precisam ter certeza de que impedir a criança de algo é um ato de amor, e não de desamor. Os pais não fazem parte da vida da criança somente para realizar seus desejos, mas sim para ensiná-los que nem tudo pode, que tudo tem um limite , senão seria como guiar um carro sem freios. Dizer ‘não’ é uma tarefa, um direito e um dever dos pais , assim como dar remédio e alimentação.
Bem-Estar: Há crianças mais difíceis de obedecer aos pais. Isto se deve à personalidade própria da criança, ou a algum direcionamento específico por parte dos pais?
Luciana Abreu: Isso se deve ao que esta criança vem aprendendo e como esta família funciona quando os limites aparecem. Não se ensina o que não se aprendeu. Quando nos tornamos pais, ganhamos um bebezinho lindo que, em breve, se tornará nosso maior mestre na arte de relacionamentos. A partir do momento que nos aventuramos a desenvolver a função de pai e mãe, vamos ter que checar nossas verdades e crenças, vamos ter que renegociar, flexibilizar nossas atitudes, aprender quais são nossos limites. Isso dá muito trabalho, exige muito dos pais, mas é um ponto fundamental para que nosso filhos cresçam de maneira funcional. Podemos até evitar dizer um ‘não’, o que nos poupará de alguns minutos de choro ou de uma cena dramática, mas em algum momento esta criança vai se deparar com os limites da vida e precisará colocar em cheque o que aprendeu. E o que ela aprendeu? A manipular? A se jogar no chão? A bater nos pais? A dificuldade em colocar limites nos filhos, em exercer sua autoridade enquanto pais, acontece, na maioria das vezes, por dificuldades dos próprios pais em lidar e vivenciar tudo aquilo que já aprenderam sobre poder, controle e limites. Por isso é muito importante que os pais estejam atentos e conscientes das suas dificuldades pessoais em relação aos limites, para não misturar com o aprendizado do seu filho.
Bem-Estar: Na ânsia de acertar, às vezes estes pais transitam em extremos?
Luciana Abreu: Sim. Muitos ficam presos no autoritarismo desnecessário, punitivo e rígido, outros vão para o outro extremo e acabam sendo controlados e "punidos" pelos filhos, com suas crises de birra e choro. Achar este caminho do meio exige discernimento, criatividade e bom senso. Pode parecer que estou culpando os pais mas, na verdade, estou responsabilizando-os pela escolha de ter filhos e, portanto, serem responsáveis pela educação dos mesmos. Ter filhos é uma possibilidade para revermos nossas aprendizagens e dificuldades, para mudarmos e evoluirmos enquanto pessoas.
Na próxima edição: Negociar, oferecer recompensas, limites na adolescência e muito mais sobre este assunto você lê na Bem-Estar de setembro. Não perca!
Respeitando limites
Confira algumas dicas para os pais na hora de impor limites aos seus filhos:
* Seja moderado com a emoção do filho que está aprendendo a lidar com suas emoções. Saber como acalmá-lo e acalentá-lo exige que os próprios pais aprendam também.
* Amplie o foco, mostre que há coisas na vida que podem, e outras que não podem, ser feitas, e isso faz parte, e tudo bem! Quando a criança quiser fazer algo que não pode, diga com tranquilidade que não pode, o motivo pelo qual não é permitido e aponte o que é permitido, o que ela pode fazer. Isso ajuda a criança a se organizar, a entender e aprender.
* Tenha clareza de suas próprias dificuldades em colocar limites e lidar com todos os sentimentos que vêm acompanhados, como medo, insegurança, frustração, tristeza, impotência.
* Permita que seus filhos possam expressar seus sentimentos de tristeza, frustração, raiva, mágoa ( é muito difícil para um pai ver a face triste de um filho, muitos se sentem incompetentes, ou até malvados. Tristeza é um sentimento real e importante na vida de qualquer ser humano).
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