Terapia pra que?

Texto de Abertura da VI Jornada de Terapia Relacional Sistêmica



Bom Dia
  Mais uma Jornada se inicia, com o compromisso de trazer , não somente uma teoria para se aplicar na vida profissional, mas  um jeito de ver a vida, as relações, e de estar no mundo.
 Trabalhar com a Relacional Sistêmica implica em desconstruir conceitos e crenças que aprendemos desde a  sempre.
É transformar nossa visão sobre as relações, sobre o comportamento humano, nos fazendo abandonar a idéia que nos acompanha de que existe certo e errado, bom e ruim.  Nos convida a uma nova forma de pensar as relações e a vida,  buscando encontrar o que é funcional e o que é  disfuncional.
 Um outro pressuposto importante na visão Relacional Sistêmica é  desconsiderarmos  a busca incessante e justificante dos porquês.
 O Por que leva a uma causa, que  leva a um  efeito , a um  trauma e acaba criando uma justificativa, autorizando uma situação, comportamento ou emoção.  Corre-se um grande risco ao responder e justificar , de   mantermos tudo do jeito que é. Quando temos uma explicação acabamos entendendo a dificuldade e muitas vezes aceitando e buscando formas de conviver com elas.
 Na visão Relacional Sistêmica o para quê é a  pergunta base, ela amplia nosso olhar e principalmente nos mostra o processo amplo, multicausal, sem um único fim ou um único responsável.  Ao  perguntar o pra que, você sai da justificativa e vai para o funcionamento.  
Ser Relacional Sistêmico  pede que  você  passe a enxergar todos os envolvidos em uma relação como responsáveis pela sua qualidade,  deixando de acreditar em vitimas e bandidos, ou de procurar  culpados e inocentes. É pensar que a princesa tem responsabilidade na relação com a madrasta má, e portanto precisa fazer aprendizagens, para transformar seu padrão de relação ou escolher abrir mão dela.
No caso da princesa, aprender a não acreditar em velhinhas oferecendo maças no meio de uma floresta, por mais que tenha sofrido com a morte de seus pais e resolvido confiar na madrasta má. No mínimo a princesa precisa aprender a ser mais esperta e se perguntar como foi que aquela velhinha veio parar ali ?
Mas não pense que isso é fácil , afinal isso quer dizer que seu marido , sua sogra e sua mãe também deixam de ser bandidos e culpados.
Isso quer dizer que todos se tornam responsáveis por suas relações e consequentemente por toda a complexidade resultante dela .
Quer dizer que seus clientes não são vítimas , inocentes, mas sim , que eles precisam aprender a escolher e se responsabilizar pelas pessoas que eles colocam em suas vidas e pelas relações que constroem com elas.
Sim,  você escolheu sua sogra no dia em que escolheu seu marido.
Você pode até dizer que só conheceu sua sogra três meses depois do  primeiro encontro,  mas com certeza você conheceu no seu amado, uma parte das crenças e valores da família dele,  no momento em que o cupido soltou a flecha em você.
Desde aquele momento você passa a lidar com questões familiares do seu parceiro, e a partir dali você já começa a construir uma relação e ter responsabilidades sobre ela, escolhendo fazer as suas aprendizagens, aquelas que julgar necessárias.
Para isso é preciso acreditar que sempre fazemos escolhas, até nas maiores dificuldades. Nem sempre se tem consciência das escolhas feitas, e esta vem a ser uma das maiores funções do processo  terapêutico.
Quem  escolhe trabalhar  com a Relacional Sistêmica opta por mudar seu olhar enquanto terapeuta, desfocar  do conteúdo que o cliente traz,  e focar na descoberta daquele  padrão de funcionamento.
O padrão de funcionamento, que nada mais é do que a forma repetitiva como resolvemos nossas questões, é a forma  que um sistema estabelece para agir e reagir as situações de vida e as situações relacionais.
Na maioria das vezes, ele é inconsciente e automático.
Engloba o que é dito e o que não é dito, a forma como são ditas e feitas as coisas, bem como todas as nuanças dos comportamentos. O padrão de funcionamento aparece em todos os aspectos da pessoa ou do sistema. Pode ser visto no corpo, no pensamento, no sentimento, na ação e, especialmente, nas relações.
Quanto mais  o indivíduo enxergar seu padrão, aceitar que ele é do seu próprio jeito e, a partir desta compreensão, esforçar-se para instrumentar seu pontos funcionais e ter controle sobre seus pontos disfuncionais , maior vai ser sua capacidade de fazer escolhas , maior vai ser a liberdade e responsabilidade por viver a vida que  deseja viver.
Estes são os pressupostos básicos que vão nortear todo o trabalho realizado aqui nesta jornada , todos os profissionais que  vão falar aqui hoje,  passarão por um aprendizado teórico e prático, por supervisões para transformar sua postura, e para trabalhar na relação terapêutica.
Terapeutas Relacionais Sistêmicos, cada um de sua forma e com suas peculiaridades  trabalham com o padrão de funcionamento do cliente ou do sistema, buscam sempre uma maior consciência sobre as dificuldades e disfuncionalidades. Auxiliam seus clientes a fazerem  as mudanças necessárias, responsabilizando-os por suas consequências e transformando cada vez mais os clientes, em verdadeiros escritores de suas vidas.
Vamos aproveitar este calendoscópio de múltiplas possibilidades de aprendizagem e de trabalho dentro desta teoria que nos sintoniza e que nos direcionou  a este encontro.  Bem Vindos !
Luciana Gomes de Abreu